27.5.11

Escombros


dentro de mim, a tristeza dorme e amanhece num ciclo vicioso, doentio. fez morada em meu coração. tomou posse dos meus dias e resolveu que vai acompanhar-me, sendo bem-vinda ou não. pirraça. faz questão de atormentar-me com sua presença gélida e sádica. convivo com esse nó na garganta, essa pedra no sapato. desconforto. vida de cão. força, eu me cobro o tempo todo. levanta essa drogadessacabeça e siga. prossiga. mas os dias têm sido longos e cruéis. sinto-me como um tijolo, um pedaço de parede, uma pedra qualquer. assim, perdida nos escombros de uma velha construção em ruína. desabada. demolida.

"o fato é que eu estou uma bagunça por dentro e por fora"

|Clarice Lispector|

23.5.11

Maior

eu sofria em excesso, chorava desolada, descabelava-me a cada decepção, sentia-me angustiada e ficava inconformada.

esperava demais das pessoas, das situações e de mim mesma. acreditava no amor perfeito, na sinceridade alheia e na felicidade plena - a despeito de qualquer problema.  

com o passar do tempo, fui aprendendo que não vivo num mundo de faz de conta e, portanto, esperando menos, decepciono-me menos, doo menos.

e é apanhando da vida que a surra dói cada vez menos. vamos ficando calejados e até sem-vergonhas.

peço a Deus que não permita que eu me torne insensível, fria, indiferente. quero continuar amando, observando, admirando e emocionando-me. quero as lágrimas na face, mas chega de chorar por aquilo que não devo, de chorar por coisas que não foram porque simplesmente N Ã O T I N H A M Q U E S E R.

hoje, quando o peito aperta, respiro fundo. deixo algumas lágrimas caírem - aquelas mais pesadas, impossíveis de serem contidas - e engulo as demais. tento enxergar além do que meus olhos humanos e falhos conseguem ver. e repito, incessantemente, como que para fixar: sou maior, sou maior, sou maior que ela. sou muito maior que a dor.