30.5.14

Brothers in Arms

eu tinha 14 anos e uma melhor amiga de 17. estudávamos juntas na 8ª série do Colégio Adventista da Liberdade. Ana Cláudia, que odiava que a chamassem de Ana, era praticamente uma mulher; eu, uma menina. ela ia ao cinema sozinha, fumava um tal de Arizona, ia para o colégio com meias de cores diferentes - eu dizia: "Cláudia, você está com uma meia vinho e uma bege", ela respondia: "ah, não achei o par". ela venerava o Stallone (juntas, vimos Rocky I, II, III, ... X, todos os Rambos, Cobra), o Twisted Sister (lembro até hoje do feioso vocalista, que ela achava lindo, e de "We're Not Gonna Take It") e um garoto-roqueiro-cabeludo chamado Ricardo que morava em sua rua, no Ipiranga - escondíamo-nos atrás dos carros para fotografá-lo passando e, depois, morríamos de ansiedade até ter dinheiro para pagar pela revelação do filme (Ricardo se apaixonou por mim, trocamos uns beijinhos e passei a evitá-lo). usávamos jeans mega colados e era um sacrifício passá-los pelos pés e pernas. fomos para a praia sozinhas, de ônibus, e fizemos mechas loiras nos cabelos (horrível!); gravamos nossas músicas favoritas em fitas cassetes. além disso tudo, Cláudia ainda me ensinou a amar Dire Straits. “Brothers in Arms” era nosso hino. compramos juntas o LP de capa azul (o da foto do vídeo abaixo) e compartilhamos a guarda desse filho: uma semana com cada uma. o disco ficou comigo – herança de uma amizade que se desfez com o tempo, mas que nunca esqueci. minha melhor amiga foi estudar em Campinas e depois voltou para sua terra: Parnaíba, no Piauí. falamos várias vezes ao telefone, trocamos cartas e mais cartas. ela casou, teve uma filha, separou-se. nunca mais nos falamos.