7.12.12


pessoas inteligentes não falam tudo o que pensam. 

silêncio é voz sábia.

30.10.12

Cena Caipira

arrastam-se os minutos contados pelo pêndulo do relógio preso à parede. 

o velho perdigueiro espanta a mosca inconveniente que teima em pousar em seu corpo estirado no piso frio da varanda.

O gato rajado - pela cor branca natural de seus pelos e pelo encardido da terra vermelha do quintal - alonga-se, boceja e expõe a arcada formada por dentes pontiagudos, na tentativa inútil de afugentar o sono. vencido, vira-se sobre o corpo e dorme encolhido no braço da mesma poltrona.

a menina balança as tranças, balança a rede, balança os pés. embriagada pelo vai e vem, acaba dormindo também. 
o sol curva-se atrás da cortina formada pelos montes e despede-se de sua plateia, recolhendo-se aos poucos, levando consigo seu longo e dourado manto.

assim chega a noite: na ponta dos pés, suave como uma bailarina, fundindo-se entre os últimos raios do astro rei e o brilho prata das estrelas.  

aos poucos, quase não se vê mais nada; mas ao longe, ouve-se o coro formado pelo piado da coruja, o cri-cri-cri do grilo, o coaxar do sapo, o mugido do gado.

26.10.12

Que Bom!

que bom que existe a beleza gratuita da natureza, o sorriso inocente da criança, o abanar da cauda do fiel amigo. que bom que existe a poesia, o livro do bom escritor, o filme de amor. que bom que existe o forte, o otimista e o justo. e quão bom é saber que o mal é ínfimo perto disso tudo.



30.8.12

Surpreenda-se

permita o novo, o desconhecido, o improvável e até o impossível.
liberte-se do círculo vicioso e opressor da rotina.
fuja da repetição exaustiva, da mesmice do dia a dia.
saia da zona de conforto. mergulhe, salte, voe alto. 
teste sua criatividade. ultrapasse o limite do óbvio, desafie a si próprio.
conheça na prática o significado de superação. abrace novas emoções. 
a vida não pode ser preenchida com monotonia.
surpreenda-se! você (sempre) pode mais do que imagina.

29.8.12

Anelo


que o tempo não roube o brilho das alegrias vividas, 
assim como rouba a cor das fotografias impressas
 num processo de irreversível desgaste.

12.7.12

Excesso & Escassez

abriu os olhos, virou-se sobre o ombro. ela estava lá, mas não era ela. não era a última, nem a penúltima, nem aquela outra que ali estivera. tampouco seria a próxima. em sua coleção de corpos e prazeres, perdera a conta de quantas deitaram com ele. pela sua cama passaram várias, sob seus lençóis dormiram muitas. e nesse jogo de sedução barata e frívola, ocupava-se em administrar a efemeridade de seus relacionamentos superficiais. divertia-se com o excesso, com o volume de mulheres das quais extraia prazer. por outro lado, driblava a escassez de um coração desabitado, desmobiliado, desabilitado para o amor. mas, gostava dessa vida - orgulhava-se de sua masculinidade e dos gols que marcava contra si.

15.6.12

Tarde de Verão

pés descalços pisando o chão.
braços abertos girando como pião.
e por alguns instantes, ao som dos trovões,

voltar a ser criança sob a chuva de verão.

9.6.12

Não Troco Por Nada




 o calor do abraço apertado
 a emoção do beijo apaixonado
 o arrepio causado pelas palavras sussurradas
 a intimidade das pernas entrelaçadas

(não troco por nada)

5.6.12

Cansei. Tô Cansada.

cansei da pequena janela por onde se avista metades.
tô cansada de meio sorriso, meia vida, meia felicidade.
cansei dessa fresta por onde só passa meia porção.
tô cansada do pouco, da migalha, de ilusão.
cansei de reprimir minha ânsia por intensidade.
tô cansada de viver de mentira, fingindo que é de verdade.
cansei de doses lights, de achar que o pouco é suficiente.
tô cansada de querer acreditar que talvez eu nem seja assim tão exigente.
cansei de dizer que tá tudo bem, quando na verdade eu tô é farta.
cansei. tô cansada. tô repleta de tanta coisa que somada é quase nada.

1.6.12

Viver, Observar, Refletir

o homem e seu amigo ↔ o cão e seu amigo
nenhuma palavra ↔ cumplicidade plenaFoto -
onde: Plaza la Capitanía - Las Condes, Santiago, Chile 
personagens: desconhecidos

25.5.12

En Marche






meu bem, você perdeu. 
a fila andou, o trem passou.
meu bem, você não entendeu,
ainda não aprendeu. 
estação é ponto de embarque,
lugar de passagem
para quem segue viagem.

23.5.12

Maman Est Chez Le Coiffeur

pense num filme que aborda, sem ser piegas ou apelativo, questões como rupturas, perdas e seus respectivos traumas. "Maman Est Chez Le Coiffeur" ("Mamãe Foi ao Cabeleireiro") conta a história de uma jornalista e mãe dedicada que, ao descobrir a traição e homossexualidade do marido, resolve mudar-se do Canadá para a Inglaterra a fim de trabalhar como correspondente em uma emissora de TV em Londres e sobreviver à ruína de seu casamento. uma mulher que teve a ousadia e a coragem de deixar para trás seus três filhos ainda pequenos, no ano de 1966. por outro lado, três crianças que se veem desamparadas, reagindo como podem - cada uma à sua maneira - à dor do abandono pela própria mãe, maior referência de amor e proteção, e, ainda, convivendo com um pai perdido entre a culpa e a difícil tarefa de criar os filhos sozinho. 
um filme sensível que nos leva a um bocado de reflexões: por que algumas crianças são roubadas de sua infância? por que precisam passar por situações tão dolorosas, difíceis de serem suportadas até mesmo por adultos? que força é essa que mantém as pessoas firmes mesmo quando têm a impressão de que lhes falta o chão? por que as relações são tão frágeis e o ser humano tão suscetível a mudanças bruscas e repentinas?  
o filme foi gravado em 2008, mas a caracterização do ambiente e dos personagens foi tão bem feita que nos remete convincentemente aos anos 60. a fotografia é fantástica e valoriza ainda mais a história bem elaborada e interpretada por um elenco que merece aplausos. 



ouça "Bang Bang", com Elie Dupuis

(curiosidade: Elie Dupuis, no vídeo, é uma das crianças do filme)

15.5.12

Pobre Homem Rico

era inteligente, bem relacionado, 
bem sucedido, realizado. 
vida profissional e social irretocáveis.
uma trajetória fascinante.
voltava para casa na escuridão da noite, 
convencido de que era um homem brilhante.
mas no eco de sua casa grande, vazia de outros habitantes,
ouvia apenas o som dos próprios passos e da respiração ofegante.
olhar fixo na parede nua, admitia que não era feliz o bastante.
e só dormia de madrugada, depois da dose habitual de calmante,
enfiado em seu pijama caro, comprado em viagem distante.

10.5.12

Dos 'AIS' aos 'IS'




sabe aquela música? nunca mais ouvi.
as fotos que tiramos juntos? nunca mais eu vi.
as mensagens que trocamos? nunca mais as li.
aquele nó na garganta? engoli.
deixei de ser o que era. morri.
a partir dali, vivi.

8.5.12

Descaso (?)

o que desejava era simples demais, sem qualquer sofisticação.
e por ser um sonho assim, tão sem pompa e ostentação,
os deuses riam-se e não prestavam atenção
ao que lhes pedia com a mais sincera devoção.

3.5.12

Tudo o Que Você Pode Imaginar é Real

pensou em ser pássaro, queria voar.
e ainda que as asas fossem emprestadas, sentir-se dona do ar.
voou em parapente, helicóptero, aeronave, foguete.
mas mesmo com tanta paixão, tinha medo da falta de chão.
suas mãos ficavam frias, suavam; sentia o coração acelerar.
desistiu do sonho de Ícaro, concluiu ser melhor sossegar.

mas precisava de um novo sonho, ser diferente do rebanho. 
resolveu, então, nadar, mas não como nada um humano.
mergulhou em piscina, rio, aquário, oceano.
e optou por viver no mar, fazer dele seu habitat. 
mesmo sem barbatana ou escama, decidiu que seria peixe.
feliz da vida, contente, escolhera deixar de ser gente.

1.5.12

Mademoiselle Chambon

é só mais uma história de amor que, como tantas outras, não deu certo. portanto, não foi a trama em si que tocou-me a ponto de vir aqui registrar este post, mas a suavidade do enredo, dos personagens, de Elgar interpretado no violino. acho ainda que, de tudo, o que mais me sensibilizou foi a música final, "Septembre (Quel Joli Temps)", tão linda na voz de Barbara. a impressão que se tem é que o filme foi inspirado na letra ou a letra no filme - tanto faz - porque se fundem, completam-se perfeitamente. 

confesso, o post é para mim mesma, para que daqui a um tempo eu lembre dessa obra achada por acaso, quando zapeava pelos canais da TV numa noite fria de São Paulo




Septembre (Quel Joli Temps) by Barbara on Grooveshark

"... As flores já estão com as cores de setembro...
... Nunca as flores de maio pareceram tão belas...
... O amor vai embora, meu coração para. 
Que tempo bom para dizer adeus..."

- j'ai vu, j'ai aimé et j'ai pleuré -

29.4.12

Desperdício


para que serve este espaço tão grande
esta cama gigante
se para dois amantes
o lugar de um corpo é o bastante?

27.4.12

que a cadência de sua respiração seja o meu embalar
e o pulsar do meu coração, sua canção de ninar

26.4.12

Carta Para Um Amigo

não sei o nome desse espinho atravessado em sua garganta, desse mal que o aflige e machuca tanto. provavelmente uma história de amor mal resolvida, um ponto final do qual ainda não está curado. se for isso, é como você mesmo disse: "a gente sobrevive". e eu completo: sim, sobrevivemos - porque não há atestado de óbito onde amor seja considerado a causa mortis.

"mas a angústia por perceber tanta vida passando é extremamente intensa, presente e dolorosa." um conselho, meu querido: dê um jeito de sufocá-la, porque não há angústia que seja digna de devorar nossa saúde. não deixe a vida passar em branco - busque um norte, um nexo, um por quem, um porquê, um por qualquer coisa - finca o teu remo na água e rema, rema e acredite. um dia a tempestade cessa e o barquinho ancora num porto seguro.

fique bem. fique em paz.

(Ouça: Jorge Drexler, "Al Otro Lado del Rio")

24.4.12

Colecionando Decepções

  1. decepção é descobrir que sua professora do 1º ano não é um ser diferente dos demais: ela tem filhos, casa, contas para pagar e uma série de defeitos e problemas que vão além do que você pode imaginar aos 6 ou 7 anos de idade;
  2. decepção é constatar que seu melhor amigo não é tão amigo quanto acreditava: muitos dos seus segredos foram compartilhados com outro alguém;
  3. decepção é concluir que seus pais não são super heróis, mas pessoas que fazem de tudo (com as melhores das intenções) para lhe passar essa impressão;
  4. decepção é estudar para uma prova e não tirar uma nota à altura de seu esforço e expectativa;
  5. decepção é perceber que seu primeiro amor, assim como na maioria dos casos, não passará de um sentimento platônico;
  6. decepção é crescer e conhecer o mundo sem o véu da inocência;
  7. decepção é ver toda confiança e admiração por alguém cair por terra, ao descobrir que o que falava não era bem verdade e o que fazia não era bem o que defendia;
  8. decepção é olhar para si mesmo e ver que, embora considere-se uma pessoa inteligente e esclarecida, não conseguiu ser nada disso quando deveria ter sido ao menos esperta;
  9. decepção é sair do útero de sua mãe e explodir em choro porque, assustado, inseguro e sem fazer a mínima ideia do que está acontecendo, é recepcionado por um mundo frio e colocado de cabeça para baixo pelas mãos emborrachadas daquele sujeito estranho que lhe trouxe à luz;
  10. decepção é saber que vai viver 60, 70 ou 120 anos decepcionando-se. isso mesmo, DECEPCIONANDO-SE: com as pessoas, você mesmo, as circunstâncias, a vida.

20.4.12

Passatempo

passa a hora, o dia, o tempo.
passa o pássaro rompendo o vento.

passa o dia, o mês, o tempo.
passa o velhinho perdido em pensamentos.

passa o mês, o ano, o tempo.
passa a menina e seu catavento.

passam todos, passa tudo. passa inclusive o tempo.
passa o menino na bicicleta pelo acostamento.

passam caminhos, estradas, veredas. passa o tempo.
passa o mendigo carregando lamentos. 

passa a vida grávida, repleta de contentamento.
e vai parindo pela senda os seus rebentos:
pedras, plumas, dores e alentos.

passa um filme diante dos olhos atentos.
passatempo.

[imagem: Robert Doisneau - "Le remorqueur du Champs de Mars", Paris, 1943]

19.4.12

Vivendo e Aprendendo (Continuamente)

aprendi que o respeito pelo ser humano, animais e natureza deve ser algo indiscutível; que todo ser que respira deve ser tratado como prioridade diante de todas as outras coisas.
aprendi que se alguém nos ofende, devemos perdoar. sete vezes? não, setenta vezes sete - e esse número é simbólico - no popular, devemos perdoar quantas vezes forem necessárias. e quer saber por quê?  porque o perdão não faz bem só para aquele que recebe, mas principalmente para aquele que oferece. aqueles que não guardam mágoa nem rancor são seres mais saudáveis, mais leves e dormem o sono dos justos. 
aprendi que em certos momentos da vida vamos nos decepcionar com algumas pessoas, e serão justamente aquelas que mais amamos e admiramos que farão isso.
aprendi que não nascemos para viver sozinhos, que solidão não faz bem, mas também que somos indivíduos com características particulares - aceitar e respeitar isso, nos outros e em nós mesmos, é meio caminho andado para o sucesso de qualquer convivência.
aprendi que não somos donos da razão, que devemos defender nosso ponto de vista sem jamais tentar impô-lo; que nem sempre as palavras convencem - e nessa hora as atitudes precisam tomar frente e mostrar seu poder.
aprendi que educação não é só uma questão de berço, que inteligência não é o mesmo que sabedoria e ignorância nem sempre é curada no banco de uma universidade. 
aprendi que humildade é sinônimo de grandeza; que sorriso, abraço e palavra amiga são remédios gratuitos e muitas vezes infalíveis. 
aprendi também que esse ser, o tal de humano, é capaz de conquistar cada vez mais diplomas e títulos, encurtar distâncias geográficas, vencer barreiras científicas; mas, por outro lado, torna-se cada vez mais incapaz de estreitar relações pessoais, de viver o amor em sua essência, de expor-se sem medo do ridículo. por querer o prazer dos feitos grandiosos, das buscas mirabolantes, das conquistas intermináveis, esquece, tantas vezes, que essas coisas podem ser bem menos importantes do que aquelas que passam despercebidas por estarem vestidas de simplicidade.

13.4.12

Partida



levantou, beijou-lhe a fronte. 
contemplou seu sono. era noite.

acordou, tocou o vazio.
contemplou o nada. era madrugada.

ele se foi. partiu.
ela ficou. partida.

12.4.12

Ponto de Vista

o que os olhos viam como capim,
o coração enxergava como jardim.
.
.

11.4.12

Desculpe a Honestidade

não sei seguir só a razão, viver sem emoção, agir sem coração.
desconheço meias entregas, meias palavras, meias verdades
não sei ser pela metade.
não aprendi representar, não sei como atuar, bancar o personagem
não sei ser somente imagem.
fantasias não me caem bem, não sei ser um outro alguém.
não sei me dar sem intensidade, mergulhar sem profundidade.
não sei viver na superfície, eu preciso de raízes.
desculpa-me a honestidade, 
mas confesso minha incapacidade:
não sei ser pela metade.

24.3.12

Admirável Mundo Irreal

cenário perfeito, ambiente dinâmico, mundo ideal. não diria que é o mundo de Marlboro porque ali já foi provado que os personagens morrem de câncer, mas talvez esteja muito próximo do de Caras, onde todo mundo é glitterati. pessoas felizes, realizadas, que desconhecem o significado de insegurança, complexo, fracasso ou dor de barriga. seres superiores, sempre sorridentes. todos têm - ou pensam que têm - bom gosto, inteligência e cultura admirável. gente que, assim como na canção do Roberto, quer ter um milhão de amigos (e alguns - bravo! - já chegaram lá). mas, apesar de inseridos e bem relacionados no irretocável mundo virtual, do lado out da tela não estão sentados numa roda de amigos, mas sobre o duro chão das frustrações, amortecido pelo almofadado conformismo e acolhidos pelo abraço frio da solidão. sabem que aqueles seus 2.937 amigos são amigos de ninguém, que seu amiguinho imaginário de infância era bem mais real que eles. sabem também que a vida do lado de cá poderia (e deveria) ser mais agradável, pelo fato óbvio de ser verdadeira. mas, infelizmente, o que não se dão conta é de que ela só não é porque não dá tempo de ser. a vida está ficando em segundo plano, perdendo espaço para o faz de conta, para o admirável mundo das ilusões. e eu, tão a favor das relações palpáveis, sinceras e duradouras, sinto muito por isso.

20.3.12

As Flores de Plástico não Morrem




por que insistimos em regar apáticas flores de plástico, deixando-as boiar em água parada, espremidas dentro de vasos horrendos que mais entristecem do que alegram nossa vida com seu inanimado existir? por que perdemos tempo observando-as dia após dia, se há lá fora um jardim repleto de vida, irrigado pelo orvalho da madrugada, que dança ao som do vento, sob o aconchego do sol? 

veja bem, meu bem, as flores de plástico não morrem porque também não vivem.

6.3.12

Desapego? Não!

é de tanto as pessoas pregarem "pratique o desapego" que todo mundo anda individualista, solitário, com medo de amar e ser amado. é por isso que muitos se fecham e vivem vidas mentirosas - sofrendo pelos cantos, mas distribuindo sorrisos aos quatro ventos na intenção de exibir uma felicidade que não sentem. levam uma vida vazia, rasa, superficial. sofrem de ostracismo, são mal humorados, cheios de doenças da alma, dependentes de antidepressivos e insones. apegam-se, sim, mas às coisas materiais, inanimadas, ao ego. 

Deus me livre do desapego, da falta de amor! quero estar perto de pessoas que me fazem bem, sentir falta delas quando estiverem longe. preciso de voz, presença, afeto, carinho. preciso de cúmplice, parceiro, ombro amigo e mão na minha mão. e mesmo que em algum momento o apego seja unilateral, mesmo que isso doa e eu me decepcione, é assim, dessa forma que quero viver. é assim que me sinto humana, mulher, viva, verdadeira. porque sofrer, a gente sofre de qualquer maneira, seja por um motivo ou outro. então, prefiro arriscar - e se for para chorar, que seja por amar, por me doar, por causa de gente. portanto, digo não, não ao desapego.

1.3.12

Ninguém é Uma Ilha

uma viagem sem emoção é apenas transferência de corpo de um lugar para outro.
um coração sem amor é só uma parte do todo.
inteligência sem sabedoria não passa de conhecimento morto.
dinheiro no banco, sem bons motivos para desfrutar, 
nada mais é do que um bocado de papel, falsa sensação de bem estar.
uma casa sem alegria? é só um teto, uma moradia.
palavra sem atitude é eco, triste som sem melodia.
de que valem as realizações se não tiver com quem compartilhar?
jamais estará repleto se faltar alguém para amar.
ah, não se iluda, não se engane! nada tem valor sem companhia.
porque ninguém, meu bem, ninguém é uma ilha.

15.2.12

Confessionário



confessei ao mar meus desejos, revelei meus segredos, contei o que almejo.
brinquei com a areia entre os dedos, tracei linhas e planos, inclui neles teu nome.
como quem chega de viagem, cheio de novidade e põe no chão a bagagem, desatei a falar.
contei que minha alma tinha sede e que eu desejava o deleite de poder saciar.
disse com liberdade, repleta de coragem, tudo o que tive vontade. 
confessei-me ao mar.

13.2.12

Perfeição


sete são os mares, os dias da semana, as cores do arco-íris, as notas musicais. sete são as virtudes, os tubos da flauta de Pã, as cordas da lira de Apolo. na bíblia sagrada, o número da perfeição. 

aqueles dias estão vivos em minha memória, tão vivos como se não tivessem passado. e desejo (tão profundamente desejo) que o tempo não retalhe com a lâmina da distância, a emoção e o desejo de continuidade que juntos compartilhamos. torço para que o tempo não roube o brilho da alegria vivida, assim como rouba a cor das fotografias impressas num processo de irreversível desgaste.

quero acreditar que tudo o que falamos e sentimos foi real, tão real quanto o mar que continuará ali, encantando como um grande feiticeiro os que por aquele terraço passarem. 

sete são as cidades sagradas da Índia, as colinas de Roma, os algarismos romanos. sete eram as belas artes, as maravilhas do mundo antigo. sete é, indiscutivelmente, o número da perfeição.

(ouça: Es Caprichoso el Azar, com Joan Manuel Serrat y Noa)

19.1.12

Da Serenidade

pés descalços, acariciados pela areia úmida. coração leve, flutuando no peito como pena desprendida do corpo de um pássaro. cabelos dançando na suavidade da música entoada pela brisa trazida pelas ondas. rosto afagado pelos fios felizes. caminha lado a lado com o mar, confidente e testemunha desse momento. sente-se tranquila. nada de amargura ou remorso. sem pendências ou inquietações. serena, faz uma reflexão breve sobre a vida. nem tudo é alegria, tampouco tristeza. somados os momentos bons e ruins, conclui que é preciso apreciar a doçura das pétalas sem esquecer que os espinhos fazem parte da estrutura da flor. o sol começa a esconder-se por trás da linha do infinito, onde o céu encontra-se com o oceano. sente-se irrigada pela umidade da areia que seus pés absorvem. e, descalça, despida de qualquer preocupação, caminha.

9.1.12

Apenas Desejo

sentir seu abraço mesmo quando a distância for grande entre nós.
o calor de seu corpo em dias frios e chuvosos.
sentir o perfume de sua pele só de ouvir tua voz.
.
contrair os músculos da face e abrir o sorriso mais gostoso 
toda vez que encontrá-lo na bagunça de meus pensamentos maliciosos. 
o arrepio da cervical à pélvica, o frio na barriga ao beijar-me o pescoço. 

a suavidade das palavras, o tom de voz aconchegante. 
a cumplicidade na dor, o sonho compartilhado. 
compreensão quando eu estiver calada.
abundância nos gestos de carinho, serenidade.
que não faça do dia a dia um palco, vitrine ou palanque.
que não nos condene às excentricidades, tampouco às obviedades.


mesmo que eu não tenha penteado os cabelos ou calçado os pés, 
aos teus olhos, desejo ser perfeita - menina e mulher.

silêncio quando não tiver palavras, olhos que desnudem a alma
os que acariciem o corpo, o ego; beijos de tirar o fôlego. 
apenas desejo que você seja meu porto.
.\
tranquilidade e deleite. toda delícia, malícia, inocência. 
sentir-me insubstituível, apesar dos defeitos que habitam minha essência.
.
rir até doer, amar-te com todo o meu ser.
rodar em seus braços, perder-me em você. 
talvez seja sonho, romantismo demais, 
mas se não der pra ser assim, 
pode deixar, eu mesma cuido de mim.

5.1.12

E Trate de Ser Feliz

saia por aquela porta
(a mesma por onde entrou)

e dobre a próxima esquina
(aquela que evitou)

aperte o passo
(desvie do caminho pelo qual chegou)

se faltar coragem, corra
(lembre que há mares que ainda não navegou)

não deixe que dúvidas se instalem
(já não sai água de fonte que secou)

adeus, meu bem, adeus
(e trate de ser feliz)


(ouça: "adieu, et tâche d'être heureux", Cathialine Andria)