por noites a fio velou seu sono. em outras, acompanhou a insônia. amparou seus relatos: segredos confiados às folhas virtuais, manuscritos. sobre si pesaram as histórias dos livros e as notícias das revistas dela. também as lágrimas escondidas em lenços de papel. elegante, em riste, calado - assim esteve o tempo todo à esquerda, bem próximo do coração dela. o dia amanhecera triste, a chuva molhava o vidro da janela. desnudo de seus pertences, assistia silente sua partida. obediente, permaneceu ali, inerte. caminhar, além do dela, somente o das horas no relógio esquecido sobre si. seu papel sempre fora amparar objetos: luminária, fotos, remédios. portanto, submisso, o criado - e mudo que era - nunca se fez ouvir; mas naquele momento, tudo o que mais queria era correr sobre suas pernas e confidenciar-lhe o quanto gostaria de partir com ela.