|Copacabana, Rio de Janeiro, 2011|
o poeta de Itabira-MG completaria hoje 109 anos. Drummond despediu-se de nós, mas sua poesia, diferente da vida que é efêmera, permanecerá.
Os Ombros Suportam o Mundo
Os Ombros Suportam o Mundo
Chega um tempo em que
não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta
depuração.
Tempo em que não se
diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou
inútil.
E os olhos não
choram.
E as mãos tecem apenas
o rude trabalho.
E o coração está seco.
Resíduo
Resíduo
(...) Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.
.
(...) E de tudo fica um pouco.
.
(...) E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.
|31/10/1902 - 17/08/1987|