tanto amor, tanto desejo. dois corações batendo na mesma cadência. caminhavam lado a lado, respiravam o mesmo ar. sonhavam os mesmos sonhos, teciam os mesmos planos. as bocas já não falavam, sussurravam. os olhos brilhavam como estrelas numa noite quente. de tanta cumplicidade, fundiam-se num único ser. um não era sem o outro.
as pedras rolavam e as águas moviam-se. a vida seguia costurando os dias. mas, sem se darem conta, perdiam o rumo. pouco a pouco, afastavam-se do porto. a chama se apagava, os corpos se repeliam. o silêncio era o diálogo que agora mantinham. o dia tornou-se noite e a noite um martírio. e era tanto vazio que já não se preenchiam - tornavam-se estranhos compartilhando o mesmo ninho. no fardo dos desencontros, deixavam de ser um. multiplicavam-se em amarguras, afogavam-se na rotina.