28.6.11

Certezas

de tudo o que vai, um pouco sempre fica. e ficou. dentro de mim, restaram certezas. certeza de que nada é em vão ou por acaso. certeza de que aprendemos o tempo todo - com as pessoas, as circunstâncias, nós mesmos. certeza de que o amor nem sempre é sentido do mesmo jeito pelos dois lados. certeza de que a vida é uma caixinha de surpresas, e estas, nem sempre agradáveis. certeza de que as pessoas são diferentes do que a gente idealiza. certeza de que respeito é a base da convivência sadia e que sem verdade não há cumplicidade. certeza de que uma mesma situação pode ser interpretada de várias formas. certeza de que não há nada certo ou  absoluto. e, por fim, a certeza de que ninguém é de ninguém.

"sem rancor, sem saudade, sem tristeza. sem nenhum sentimento especial
a não ser a certeza de que, afinal, o tempo passou."
|Caio Fernando Abreu|

21.6.11

Superação

é no outono, quando perdem suas folhas, que as árvores armazenam energia e preparam-se para atravessar o período de inverno;

do final do verão até o fim do inverno, os pássaros passam pela fase de muda. nesse período, trocam penas e bico, não cantam, ficam vulneráveis a doenças e procuram alimentos macios, pois têm dificuldade em alimentar-se de sementes mais duras;

para expandir seu corpo e crescer, as serpentes mudam periodicamente de pele num processo doloroso que pode durar dias, chamado ecdise;

quando a temperatura do ar e da água esquenta, os peixes precisam vencer a correnteza dos rios subindo até as cabeceiras para reproduzirem-se. nesse movimento chamado Piracema, além de superar cachoeiras, predadores e outros obstáculos naturais, precisam vencer também a pesca predatória.

são inúmeros os exemplos de superação. a natureza está repleta de seres que, como pedras brutas, são lapidados pelas adversidades. seres que passam pelos mais duros obstáculos, mas vencem e continuam florindo, cantando, voando. vivendo, afinal. 

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"Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses."
|Rubem Alves|

14.6.11

Ruptura

não quero reviver ou remoer o que passou, porque já não tenho saudade de nada. condicionei-me a pensar e a sentir assim. e desse jeito tem sido. mas sofro - porque romper dói. ruptura é uma espécie de aborto, automutilação. rompi comigo mesma, com quem fui. involuntariamente, rompi com a paz, a serenidade, o riso fácil. rompi com o amor e suas expectativas infantis. rompi com o carinho e também com a confiança. rompi com o encantamento e a admiração. rompi com uma história, um período, uma fase. rompi com o que, de todo meu coração, acreditei. rompi com o brilho dos olhos, o frio na barriga, as promessas de amor. rompi com os sentimentos contraditórios que não cabiam no mesmo espaço. rompi com a cegueira. rompi com o pretérito imperfeito. rompi conscientemente. e em absoluto.

7.6.11

Metamorfose

quando falamos de períodos de mutação, transformação ou sei lá mais que nome se pode dar a esses momentos em que a vida fica de pernas para o ar, em que sair de uma situação é um mal necessário e às vezes até imposto pelas circunstâncias, lembramos quase que instintivamente do processo de metamorfose da borboleta. antes de tornar-se colorida, vibrante, leve, linda, há o processo de clausura, dor, solidão, feiura: ovo, lagarta, pupa e imago. horrível, mas inevitável. horrível, mas um processo para a continuação da vida. horrível, mas é assim que tem que ser e será. ponto.

a dor, contrária a si mesma, faz-nos lutar. o espelho já não reflete só o físico, aquilo que os olhos podem ver, mas também o fundo da alma - e mostra que amor próprio é item indispensável para sobreviver à avalanche de sentimentos ruins, de cobranças, de um sem fim de 'por quê?' sem resposta. e é assim que a gente vai à luta. é sofrendo que reafirmamos nosso valor, que acordamos para a vida. e é em meio à dor que nos tornamos mais nobres, valentes - e bonitos, inclusive.

e sabe por quê?

"porque quando estou fraco, então é que sou forte." [II Coríntios 12:10]