sempre quis tocar piano. imaginava uma sala ampla, iluminada por uma janela muito limpa e reluzente, e ali, disposto majestosamente, um piano de cauda Steinway.
muitas vezes, nessa sala imaginária, à luz do luar, eu tocava com os olhos fechados (porque, em sonho, eu dominava as teclas de marfim e ébano, além dos pedais do piano preto. de cauda. Steinway, claro!), as composições de Beethoven, Mozart, Chopin, Bach, Schumann.
muitas vezes, nessa sala imaginária, à luz do luar, eu tocava com os olhos fechados (porque, em sonho, eu dominava as teclas de marfim e ébano, além dos pedais do piano preto. de cauda. Steinway, claro!), as composições de Beethoven, Mozart, Chopin, Bach, Schumann.
um sonho! um doce delírio! mas eu acreditava piamente: um dia, tudo isso será realidade.
bem que tentei. comecei a estudá-lo aos 12 anos. estava na 6ª série. uma menina magrela, com dedos longos e finos. mãos de pianista, como diziam.
foi uma loucura, uma verdadeira saga, encontrar o tal do "The Leila Fletcher Piano Course - Book 1". lembro-me nitidamente: tinha a capa laranja e seu conteúdo era composto por canções infantis americanas. encapei-o com Contact transparente e uma colega chinesa, que estudava comigo, desenhou uma menina-mangá na contracapa. seus grandes olhos pareciam brilhar e o vestido era cheio de babados. o desenho tinha vida(!) e estava estampado no meu primeiro (tempos depois constatado: e último) livro de piano.
entusiasmadíssima, não faltava às duas aulas semanais. era uma alegria e tanto quando conseguia tocar alguma coisa. a euforia durou quase um ano. meu professor, querido maestro Dino Nolasco, foi embora de São Paulo e eu parei de estudar piano. o tempo foi passando e eu dizia: "vou voltar", mas nunca voltei.
continuo amando pianos, pianistas e afins, mas, hoje, tenho outra certeza (bem diferente daquela que eu tinha aos 12 anos): nunca vou tocar como sonhei um dia - olhos fechados, as 88 teclas e 3 pedais sob meu completo domínio.
foi um sonho. um doce delírio.