12.8.10

Peguei-me Pensando

estou  aqui  numa sala  fria, cercada  por pessoas  estranhas, cada  qual  voltada  para  seu mundo. fisionomias trancadas, seres isolados em meio aos semelhantes. este cenário entristece.

perco-me em pensamentos e alço vôo para um lugar tranquilo, onde posso ouvir os pássaros ao amanhecer. fecho os olhos e permito-me acreditar que é para mim que eles cantam, especialmente para mim.

saio da cama sem a interferência de um relógio. aquele que, diariamente, faz questão de me lembrar que está na hora de encarar o trânsito louco da metrópole onde vivo, inalar seu ar pesado e enfrentar o mau humor de pessoas que mal acordaram, mas já estão cansadas. 

sento-me à mesa estrategicamente instalada sob uma janela que, embora não muito grande, tem tamanho suficiente para mostrar a vida lá fora. ah! essa visão enche-me de uma alegria pueril. como a vida pode ser leve!

caminho por uma estrada de terra, cercada por flores e muito verde. sinto o calor dos raios solares que me aquecem o corpo, mas principalmente o coração.

tenho o prazer de ver a magia do pôr do sol no horizonte e de sentir a brisa fresca do fim de tarde.

ouço a melodia do rio corrente e das pedras sendo levadas por suas águas cristalinas. águas que seguem seu curso, arrastando, além das pedras, os empecilhos, depositando-os nas curvas de seu leito, deixando-os para trás.

deito-me ao chegar a noite. o corpo está morto de cansaço, mas a alma está viva e radiante. numa cama com lençóis brancos e travesseiros macios, durmo com a janela aberta, depois de assistir o espetáculo de um céu carregado de estrelas que brilham naturalmente, sem  necessidade de qualquer artifício. estrelas que me fazem suspirar de contentamento e convidam-me a revelar os mais secretos sonhos, temores e prazeres.

abro os olhos (que  na verdade  nem  foram  fechados) e deparo-me  com a realidade dura, nua e crua: as pessoas continuam ali, pasmem, com seus semblantes carregados. mas tudo certo, sinto-me bem agora. pude nesses poucos minutos em que tirei os pés do chão, fazer uma grande e deliciosa viagem.

15 comentários:

Valéria lima disse...

Que viagem mais colorida foi essa?!
Encantada!

BeijooO*

Robson Ribeiro disse...

Oi. Também costumo fazer essas viagens para sair um pouco dessa realidade que me prende ao dia a dia. As nossas metrópoles são diferentes, mas o panorama é mais ou menos o mesmo.

Beijo.

Franck disse...

Apesar dos pesares...ainda há poesia! Lindo texto! Beijo-te!

Bia Prado disse...

To precisando disso um pouco...
Lindo texto. Linda foto!
Bjs, querida.

Anônimo disse...

Ma poupee,
Esta viagem retrata bem aquilo que vc representa para mim ,doce ,sonhadora e unica
MGA

Lilly disse...

Qualquer comentário feito a respeito desse texto tão lindo parecerá pobre... :)
Beijos!

Joaquim Maria Castanho disse...

Pelos dias mágicos, eis a...

acta nupcial

Nesta Lua Nova, sexta-feira, dia treze do oitavo mês
Estou em Uruk, meu amor, a vinte e cinco séculos de ti
E as árvores são as mesmas árvores cuja sombra te abrigou
Os animais rareiam mas são tão iguais aos que perseguiste
Excepto aqueles que nunca cheguei a conhecer se extinguiram
Os mesmos rios correm com idênticas águas sempre outras
O Tigre e o Eufrates antes cristalinos e insubmissos fluem
Agora tímidos e sujos e estagnam em barragens avulso
Os homens e mulheres já não flanam em sedas, linhos e lãs
E os brocados perderam as figuras geométricas que os esculpiam
Os losangos, círculos e triângulos da incógnita decimal divina
Nem inquietas danças balançam sob a sua passagem fugaz.

Mas esta esquina é a mais frequentada da cidade desde cedo
E nunca me falta trabalho, às vezes ainda se não vê claro e já
Tenho agricultores ou ricos negociantes para grafar contratos
Viúvas que querem mandar cartas a seus filhos e mais parentes
Nem nunca me faltam as tabuinhas de alabastro e terracota
E a deusa Inanna protege ciosamente altiva os seus súbditos
Porque Inanna, deusa do amor e da fecundidade, também é fiel
Súbdita incansável de Arina cuja luz a todos igualmente ilumina
Incluindo Gilgamesh, Enkidu ou até o sobrevivente Shuruppak
De quem o dilúvio quase tornou o único homem sobre a terra,
Embora se saiba hoje que não foi assim, pois todos aqueles
E aquelas que ao momento adoravam A Deus nos altos píncaros
Dos montes se salvaram ilesos e íntegros na carícia do vento
Como quaisquer frutos altaneiros a que as águas não atingem
Ou o voo das aves se torna impróprio ante encascada polpa.

Foi a principal prova do poder e gratidão de A Deus entre nós
De como o seu louvor é benfazejo e imaculado e são e puro
E de como nele os netos dos homens se fazem à medida avós
E de como o mundo todo é seu templo sem cúpulas nem muro.

a**A disse...

Uauuu...me ensina? Rsrsrs ")
Beijo

Alice disse...

Dar asas a imaginaçao faz um bem danado a alma!

Quando sinto que nao vou aguentar, eu gosto tirar os pes do chao nem que seja por uns segundos. Volto renovada!

Seus textos sao encantadores.

Beijo.

Abafa e Se Joga. disse...

A-M-E-I de paixão esse texto. Reflete bem algo que estou precisando fazer. Beijos e bom final de semana!

Vanessa Monique disse...

Pequenas coisas na vida q a gente nem dá mt valor, tem hrs q bate saudades delas.
:*

Anônimo disse...

rsrs...faço essas "viagens" ás vezes...só assim para me manter sã, neste mundo insano!
bjossssssssss

Ju ♥ disse...

e a imaginação voa longe quando nós permitimos... ainda bem!
bjs

Dan Vícola disse...

Que delícia o seu cantinho! =)
E, sim, "abstrair" essa nossa "Samparadoxal" é uma necessidade. Das mais urgentes, eu diria.
Retribuindo, encantado, a visita!
Um abraço!

Sabrina Davanzo disse...

Às vezes precisamos ir ali, dentro de nós, para encontrar a beleza em meio ao caos. Tb gosto de me permitir essas "fugas".

Lindo texto!

: )