6.4.10

Complexidade

já desejei coisas e pessoas. já conquistei pessoas e coisas. errei e continuo errando, mas sempre querendo acertar. conheci pessoas únicas, as quais jamais esquecerei. já chorei por amor e ri à toa por causa deste mesmo sentimento. carrego, suporto, insisto - e pago alto preço por isso. falo e faço bobagens, das quais geralmente não me arrependo. sou incompreendida, algumas vezes, porque sou dona da verdade - a minha pelo menos.
sou tolerante até certo ponto. explodo quando sinto que não sou obrigada a engolir o que me incomoda. sofro além da conta com o sentimento de perda, embora perder nem sempre signifique derrota ou subtração. a gente só precisa encarar a frustração ou trauma (ou sei lá o quê) com coragem, mesmo que o peito sangre e os olhos chorem oceanos, pois o tempo se encarrega de mostrar se aquele sofrimento era ou não superestimação do acontecimento e também de colocar tudo em seu devido lugar. depois, tantas vezes, a gente acaba até rindo de nosso próprio drama.
o fundo do meu poço, moradia vez em quando necessária, acolheu-me sempre de braços abertos. emergi com a força devida para continuar, pois não há dor que perdure.
tolero os sarcásticos e divirto-me com os idiotas. detesto gente fútil. detesto gente hipócrita. detesto gente egocêntrica. detesto detestar, mas nem sempre há outra escolha, então, detesto. mas não odeio - ódio é sentimento muito pesado para carregar. permito-me ficar sozinha - revigora -, mas detesto solidão. nasci para interagir. gosto de observar. detalhes são importantes para mim. não suporto ser julgada. não admito ser desrespeitada. acho que minhas entrelinhas dizem mais a meu respeito do que as próprias linhas (embora aqui eu não as tenha economizado). alternando entre o sim e o não, tento ser feliz.
guardo situações, palavras e gestos com extrema perfeição. falo palavrão, mas também sei manter a classe. às vezes, quando poderia falar, calo (porque nem sempre vale a pena dizer o que se pensa). apaixonei-me inúmeras vezes, amei poucas. sei que fui apaixonante para alguns, amada por outros. viver pela metade? não aceito. em cima do muro? não dá. a gente precisa tomar partido, ter opinião, saber o que não quer. sou intensa, sofro por isso. se me prometer algo, por favor, cumpra - a decepção muda, e muito, minha forma de ver uma pessoa.
a vida bem que poderia ser cor de rosa, mas não é. portanto, ou aprendemos a conviver com quem somos e com a pluralidade que nos cerca, ou viveremos cheios de questões mal resolvidas, tornando-nos pessoas amargas, repletas de doenças na alma.

4 comentários:

Girl in the Clouds disse...

Que texto tão bonito!! É verdade temos que ser fortes!!

Aroeira disse...

gostei muito de vc. gostei de te conhecer nas tuas linhas e entrelinhas.
piacere per fare la tua conoscenza.
bacio.

Paulo Ednilson disse...

Amélie, pura poesia a tua prosa gostei muito e vez ou outra estarei por aqui. Obrigado pela visita. Um brinde ao nosso encontro tim tim!

CÁLICE
Paulo Ednilson

Sob a pele toda cinza repousa livre do sopro
olhos brilhantes lacrimejam mas não transbordam
o choro não desata
surdo o mundo não ouve
o descompasso do coração
rugas reminiscêntes
espelham tempos idos
esgotado o mundo
resta a poesia a reinventá-lo
anjos e demonios bailam
ao som de mil liras
o céu e o inferno fundiram-se
nas esquinas da vida
o mundo fechou cortinas no horizonte
distante perdi o rumo
sem prumo não sei voltar pra casa
o novo já nasce velho
perdi o costume do consumo
a vida consumida
pela ausência de vida é lida
ambiguidade me deixou tetraplégico
faca de dois gumes fere
mas não define o corte
quando o que sangra é a morte
a vida não estanca
peito que não suporta farsa
não disfarça ira
ainda nascem rosas nos cemitérios
o belo floresce em qualquer lugar
morta serpente resta o veneno
comportado o corpo apenas comporta
suporta a vida presente
se me amas
não me digas
que me amas
ame simplesmente
a palavra é lavra do engano
não me queiras pelo que digo
me procures no que sou
envelheço em barris de carvalho
protegido do orvalho
de vossas manhãs
apuro o sabor na sombra
calo-me
à espera
do cálice
fatal

MagicWoman disse...

OLá!

Escreves muito bem :))

kiss kiss